Rodovia Belém-Brasília (BR-14), a grande “Espinha Dorsal” de Bernardo Sayão, adequada a oferecer sup

Dulce Portilho Maciel (UEG)

Lígia Maria de Carvalho (UEG)

O engenheiro Bernardo Sayão tornou-se figura lendária entre os habitantes da área geográfica denominada Bacia Araguaia-Tocantins, em razão dos empreendimentos governamentais aí realizados sob sua gestão, nas décadas de 1940 e 1950 – instalação e administração da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG), gerenciamento de obras na construção de Brasília, direção dos trabalhos de implantação da Rodovia BR-14 – mas, sobretudo, em decorrência da fatalidade que o alcançou justamente quando se finalizava a etapa de abertura primária desta rodovia (fevereiro de 1959): faleceu devido a ter sido atingido por imensa árvore cujo abate se processava sob sua supervisão.

No início de 1961, concluiu-se o mandato do presidente Juscelino Kubitschek e, com isto, o período áureo dos grandes projetos governamentais de investimento em infra-estruturas, a marca mais visível de seu governo. Mas seu governo notabilizou-se, de outra parte, pelo abandono, ainda que parcial, da política chamada nacional-desenvolvimentista, herdada da era Vargas, e adoção de medidas que abriam a economia do Brasil ao capital estrangeiro, ao mesmo tempo em que buscavam produzir o robustecimento do capital privado nacional. Ocorreu, então, que durante o governo João Goulart, as práticas nacional-desenvolvimentistas que já davam sinais de desgaste no governo JK, entraram em crise, esgotando-se, por fim.

Até certo ponto, o governo JK havia antecipado medidas que seriam retomadas e expandidas pelo regime militar instaurado no país em 1964, principalmente quanto ao estímulo à entrada de empresas estrangeiras no país. Estes governos não apenas criaram ou aperfeiçoaram mecanismos econômicos com vistas a incentivar a entrada dessas empresas em território nacional, como buscaram atuar em conjunto com elas, a fim de acelerar a substituição de importações e modernizar a agricultura e o parque industrial nacionais.

Para os governantes militares, a bacia Araguaia-Tocantins possuía função estratégica, do ponto de vista da segurança e da integração nacionais, por dois motivos: de um lado, em razão do seu povoamento rarefeito e, de outro, devido ao fato de localizar-se em território pouco conhecido (mesmo cartograficamente), mal servido de vias e meios de transporte e comunicação, situando-se, ademais, sua maior porção, no próprio centro geográfico do país. Para aqueles governantes, a ocupação dos espaços então dados como “vazios” (embora habitados, secularmente, por populações indígenas) significava estabelecer controle sobre o território brasileiro e sua população, razão pela qual investiu grande esforço para a obtenção deste objetivo.

Mas a atenção dos governos militares em relação ao território banhado pela bacia Araguaia-Tocantins acentuou-se, sempre mais, na medida em que crescia o interesse do grande capital pela região, aí incluídas inúmeras empresas agropecuárias ou de extração mineral e vegetal, as quais, desde a época da transferência da capital federal para o interior do país (em 1960), começaram a ali se estabelecer. A política federal para o vale do Araguaia-Tocantins, diferentemente de ter em vista atender a uma demanda crescente de agricultores que migravam para a região em busca de solo para plantar, optava pelo investimento em grandes empresas capitalistas, mediante doações de terras e outros bens públicos, financiamentos subsidiados e, principalmente, incentivos fiscais.

A Superintendência do Desenvolvimento da Região Centro-Oeste (SUDECO) constituiu-se em peça-chave da execução desta política que, apoiada em medidas legais, voltava-se para os grupos econômicos interessados na exploração da agropecuária em grande escala, das riquezas do subsolo, na exploração da madeira, etc. A pré-existência da rodovia Belém-Brasília e a posterior execução, pela SUDECO, de um programa de construção de estradas vicinais constituíram-se, por certo, em fatores decisivos para a viabilização de tais empreendimentos privados na região do Araguaia-Tocantins.

O trabalho aqui proposto baseia-se em pesquisa original, realizada por suas autoras (com a colaboração de estudantes, bolsistas de Iniciação Científica), no fundo documental da SUDECO, atualmente guardado no Arquivo Nacional – Coordenação Regional do Distrito Federal.